terça-feira, 5 de março de 2013

Mitologia & Medicina: "Cabeça de Medusa"

Segundo a mitologia, Medusa era uma jovem tão bonita e orgulhosa que ousou julgar os seus cabelos mais belos que os de Atena. Para punir tamanha vaidade, essa deusa transformou-os em serpentes. Aquele que cruzasse o olhar com o da mortal Medusa seria imediatamente paralisado.



Cabeça de Medusa (1599). Caravaggio (1571–1610). Óleo sobre tel aplicada sobre disco de madeira, 60 por 55 cm. Galeria Uffi zi (Florença)

A representação do reflexo de Medusa no escudo é um autorretrato de Caravaggio travestido de Medusa. O artista reproduziu no espelho, no escudo côncavo de Perseu, a imagem que viu de si no espelho real. Esta obra é, por isso, um duplo reflexo, real e mitológico. Caravaggio retrata um olhar aterrorizado ao ver-se petrificar, bem como a dolorosa vertigem do momento da morte.

Certo dia, Perseu, filho de Zeus, resolveu acabar com Medusa. Para escapar de seu olhar petrificante, utilizou o escudo espelhado de Atena (deusa da sabedoria e da estratégia). Ofuscada pelos raios de sol refletidos no escudo, Medusa foi então decapitada pela lâmina afiada da espada de aço de Hermes, empunhada por Perseu, que posteriormente utilizou sua cabeça como arma, até dá-la de presente para a deusa Atena, que a colocou em seu escudo. Durante séculos da idade clássica, a imagem da cabeça de Medusa fora utilizada para afuguentar o mal.



A cabeça de Medusa (1617). Peter Paul Rubens (1577–1640) e Frans Snyders (1576–1657). Óleo sobre madeira, 68,5 por 118 cm. Museu Kunsthistorich(Viena)

Mas o que a Medusa tem a ver com a Medicina?

Quando há hipertensão portal (gradiente de pressão portal igual ou superior a 12 mm Hg), instalam-se os desvios portossistêmicos, ou seja, circulação colateral constituída por veias dilatadas que surgem no abdómen dos indivíduos com cirrose hepática e que são consequência de obstáculo colocado à circulação venosa pelo processo hepático.

As veias subcutâneas periumbilicais podem tornar-se tortuosas e varicosas, como cobras azuladas serpenteando sob a pele.



Medicamente, apelida-se esse sinal perigoso e temido como caput medusae (cabeça de Medusa), devido a por sua enorme semelhança com os cabelos serpentiformes de Medusa, a letal e aterrorizante personagem da mitologia grega.

Na Literatura: Em 1922, Freud concluiu o intrigante ensaio Cabeça de Medusa, onde argumenta que a visão da personagem mitológica provoca terror por ser a decapitação um símbolo da castração:
A visão da cabeça da Medusa torna o espectador rígido de terror, transforma-o em pedra. Observe-se que temos aqui, mais uma vez, a mesma origem do complexo de castração e a mesma transformação de afeto, porque ficar rígido significa uma ereção. Assim, na situação original, ela oferece consolação ao espectador: ele ainda se acha de posse de um pênis e o enrijecimento tranqüiliza-o quanto ao fato. Sigmund Freud, 1922.

REFERÊNCIAS:
Bezerra, A.J; Araújo, JP. “Caput Medusae”. Ética Revista, ano III, n.º 4, jul./ago., 2005.
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. XVIII.

2 comentários:

  1. Oi Renata,

    Adorei o post, você ligou a mitologia, a medicina e a psicanálise!
    Muito interessante.
    Abraço

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  2. Midas e Medusa: um breve caso de amor.
    http://blogdopg.blogspot.com.br/2013/03/midas-e-medusa.html

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