sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Suicídio na Literatura

O suicídio é um fenômeno complexo que tem atraído a atenção de escritores, teólogos, médicos, sociólogos e artistas através dos séculos; Não apenas um problema filosófico, o tema ocupa hoje um importante lugar nas questões de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase 1 milhão de pessoas morrem por suicídio por ano, a freqüência ocupa a terceira posição entre as causas mais comuns de falecimento da população da faixa etária de 15 a 35 anos, sendo uma das 10 maiores causas de morte em todos os países.

10 de Setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, uma iniciativa da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio juntamente com a OMS. O dia foi criado com o objetivo de promover o compromisso mundial com medidas para prevenir a principal causa evitável de mortes prematuras.

O escritor alemão Hermann Hesse, descreveu sua visão do “homem suicida” na obra clássica O Lobo da Estepe (1927). O livro conta a história de vida do complexo Harry Haller, personagem que padece de esquizofrenia. À época em que o livro foi escrito, a preocupação com a prevenção do suicídio era escassa na sociedade, em parte porque a compreensão da saúde mental estava apenas começando a engatinhar. Ao fim do texto, Hesse deixa claro o quão necessário é alertar a todos sobre a importância de estudar o homem, não apenas “o mecanismo dos fenômenos vitais”, mas, principalmente, seu estado mental:

É próprio do suicida sentir seu eu, certo ou errado, como um germe da Natureza, particularmente perigoso, problemático e daninho, que se encontrava sempre extraordinariamente exposto ao perigo, como se estivesse sobre o pico agudíssimo de um penedo onde um pequeno toque exterior ou a mais leve vacilação interna seriam suficientes para arrojá-lo no abismo. Esta classe de homens se caracteriza na trajetória de seu destino porque para eles o suicídio é a forma de morte mais verossímil, pelo menos segundo sua própria opinião. A existência dessa opinião, que quase sempre é perceptível já na primeira mocidade e acompanha esses homens durante toda sua vida, não representa, talvez, uma particular e débil força vital, mas, ao contrário, encontram-se entre os suicidas naturezas extraordinariamente tenazes, ambiciosas e até ousadas. Mas assim como há naturezas que caem em febre diante da mais ligeira indisposição, assim propendem essas naturezas a que chamamos "suicidas" e que sempre são muito delicadas e sensíveis à menor comoção, a entregar-se intensamente à idéia do suicídio.

Se tivéssemos uma ciência que possuísse coragem e autoridade suficientes para ocupar-se do homem em vez de fazê-lo simplesmente no mecanismo dos fenômenos vitais, se tivéssemos uma verdadeira Antropologia, uma verdadeira Psicologia, tais fatos seriam conhecidos de todos.

O filósofo francês Albert Camus, em seu célebre ensaio O Mito de Sísifo (1942) aborda a problemática do suicídio como saída que o ser humano inventa para a situação absurda que se encontra. Preocupado com o tema, Camus escreveu:

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder a questão fundamental da filosofia.


A criação do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio representa um enorme avanço na área de saúde mental.


REFERÊNCIAS:
1.Gunnel D, Frankel S. Prevention of suicide: aspirations and evidences. British
Medical Journal, 1999, 308: 1227-1233.
2.Prevenção do suicídio: um manual para médicos clínicos gerais,OMS; Genebra, 2000.
3.HESSE, Hermann. “O Lobo da Estepe”, Rio de Janeiro: Record, 1998.
4.CAMUS, Albert. O mito de sísifo: ensaio sobre o absurdo. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989

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